quarta-feira, dezembro 07, 2005

coisas à máfia...

(é sempre uma emoção postar pela primeira vez...)

(não tem nada a haver com nada, mas como dizia um livro de Dan Brown, «tudo o que está aqui escrito é verdade» e aconteceu-me ontem à noite)

Tocaram à porta de casa. Olhei para o relógio e estranhei: «Tão tarde?».
Desci as escadas e fui até à portaria para abrir mas outra pessoa já tinha corrido a atender. Perguntei-lhe o que é que queriam a esta hora.
«È morto il fratello del tizio del bar.»
O “tizio” do Bar é o Santino (nome fictício: claro!). É um tipo magro (muito magro) que gosta de falar connosco de Nietzsche, Deus e o Concílio Vaticano II. Todos nós o conhecemos bem. Até porque ele é o irmão mais novo do “mafioso”.
Tony (mais um nome fictício) é o exacto oposto do irmão. É gordo. Muito gordo. Mas muito gordo mesmo. Ou melhor: era muito gordo. Tinham acabado de o encontrar morto e batiam à nossa porta à procura de um padre que pudesse ir até ali ao lado, duas portas mais abaixo da nossa, ao bar-escritório-casa dos dois irmãos.
O mundo deles é ali. Dificilmente saem do bar: Tony tem (tinha) a sua poltrona de cabedal preto, com rodinhas (tipo escritório) e, escusado será dizer, era a única pessoa que se podia sentar nela. Mesmo durante o Verão quando estava na esplanada, era nessa cadeira que se sentava. E era desse seu “trono” que Tony atendia as pessoas que lhe queriam falar. E eram muitas.
O padre abotoou o casaco até acima, deixando abertos os últimos dois botões para que se visse bem o cabeção da camisa. Saiu acompanhado por um dos diáconos e pelo rapaz do bar que os veios chamar.
Provavelmente, Tony morreu de enfarto, mas também pode ser que não. Há já algum tempo que todos aqui no bairro sabiam que alguma coisa não andava bem. Ficámos bastante surpreendidos quando uma manhã ao sairmos de casa vimos que alguém tinha partido o vidro da montra do bar. Mas não com uma pedra. Lá de dentro alguém tinha lançado uma slot-machine que, depois de ter partido a montra em mil pedaços, aterrou ruidosamente entre o passeio e a estrada e ali ficou, sem que ninguém a tocasse durante vários dias.
Já vos disse que nós moramos a trezentos metros do posto da polícia? Pois...
Em pouco mais de quinze minutos o padre e o diácono voltaram. Disseram que não se pode fazer nada a não ser dar uma benção e algumas palavras de conforto à mãe velhinha, porque a polícia está lá e não deixa ninguém tocar no corpo que ainda está caído no chão de uma das salas nas traseiras do bar.
Hoje de manhã, quando saí de casa, vi que estava tudo fechado, as grades estavam corridas e na porta tinham afixado uma nota que dizia «CHIUSO PER LUTTO». Passei o dia fora e quando voltei (há mais ou menos uma hora atrás), assim que desci do autocarro apercebi-me de que o bar estava aberto. As grades estavam levantadas, as luzes acesas e viam-se os clientes lá dentro. Só quando me aproximei mais e passei à frente da porta é que vi no meio da sala o caixão aberto com o corpo de Tony lá dentro. Fazem o velório lá no bar (where else?). Tony está com um ar tranquilo. Bem vestido, mãos juntas e pálpebras cerradas (menos mal. Havia uma coisa que o tornava ainda mais sinistro: era estrábico e por isso ninguém era capaz de o fixar nos olhos).

3 Comments:

At 11:07 da manhã, Blogger C said...

Mal posso esperar...
(may the Force be with you!)

 
At 2:24 da tarde, Blogger Al Zheimer said...

Zé, essa historia é digna dum filme!!!
Se pusesses mais umas mortes, explosões e uma cena de sexo bem podia ser um filme de hollywood!
É pena ca em Peniche não se passarem historias interessantes!

 
At 7:33 da tarde, Blogger Unknown said...

Muito bem, é sempre uma bela história que nos faz acreditar que a máfia não é fcção cinemtográfica!
Continua a contribuir ... Obrigado!!
Cuidado com a inquisição (hehehe)!

 

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