segunda-feira, fevereiro 26, 2007

50 dias e 50 noites

Hoje são 50 dias que estou a viver na Colômbia, mais precisamente em Bogotá no bairro “Lisboa”, na periferia noroeste da capital.
Nos primeiros dias o peso do fuso horário fez-se sentir e a altitude também não ajudou. Bogotá fica a 2600 metros de altura em relação ao nível do mar e quem não nasceu aqui (principalmente se vem de uma cidade que está a zero metros) vai sentir-se de vez em quando cansado e sem fôlego porque o ar é muito mais rarefeito. Depois passa e (provavelmente) se começasse a fazer uns treinos, até dava para ganhar a corrida das fogueiras este ano (a não ser que os quenianos também andem a treinar nestas altitudes).
O centro da cidade oferece quase tudo aquilo que se encontra em qualquer cidade europeia (excepto, por incrível que pareça, um bom café. O “bom” café colombiano é todo exportado e nunca chega ao mercado nacional), mas onde eu moro ainda há espaço para umas obras valentes. A coisa que mais me incomodou nos primeiros dias foi o pó, porque aqui as estradas não são asfaltadas. Uma pessoa vai-se habituando e agora quase já nem ligo, mas quando chegar a estação das chuvas isto deve ficar lindo... Já tivemos um ou outro “ensaio” e realmente a lama não perdoa.
Com o castelhano já me vou desenrascando. Perceber é fácil, mas quando quero falar ainda me saem várias palavras portuguesas ou italianas. Felizmente até agora ainda nunca tive de ouvir o famoso “no-comprendo” dos nossos vizinhos espanhóis. Todos se esforçam por me perceber e todos me ajudam a falar melhor. Aliás, o melhor desta experiência são mesmo as pessoas que tenho conhecido.
Acolhedores e simpáticos, os colombianos são a coisa melhor que este país tem para oferecer. Apesar de tudo (da guerra civil, do narcotráfico, da corrupção, dos sequestros, das dificuldades em que vive a maioria da população) tenho visto mais sorrisos por aqui do que pela Europa. E acreditem: nós temos muitos mais motivos para sorrir. A vida em Portugal pode não estar fácil (será que está em algum lado?), mas não há comparação com os problemas que aqui se vivem. No bairro já quase todos me conhecem (a minha cara de europeu também não passa despercebida) e tenho visitado várias casas aqui da vizinhança. A maioria não tem estuque ou tinta nas paredes e o chão é de cimento. Nalgumas as divisões são feitas com cortinados e cobertores pendurados no tecto e outras parecem “mantas de retalhos” porque são construídas aos poucos com materiais, gostos e cores muitos diferentes, à medida que as possibilidades se vão apresentando. Mas é tudo gente muito asseada e super trabalhadora. Levanto-me todos os dias às 6 e a essa hora já há uma azáfama de gente na rua a trabalhar para ganhar a vida. Todos os dias parecem dias de feira. Há sempre gente a comprar, vender, trocar, regatear... E há música. Há sempre música. As pessoas colocam os rádios nas janelas e por todo o lado se houve sempre o ritmo da salsa, da cumbia e do vallenato.

Por hoje é tudo mas entretanto vou tentar colocar aqui algumas fotos. Para isso tenho de ir à biblioteca porque a Internet na minha casa é super, super lenta e mesmo as fotos mais “levezinhas” pedem uns 15 minutos de conexão.