Era eu um puto de 14 anos quando comprei o meu primeiro Blitz, em 1995. Lembro-me que foi nessa altura em que comecei a treinar o meu ouvido para a música, que me começava a fartar da febre "Nirvana" e descobria o Punk Californiano como alternativa musical. Na capa vinham os Smashing Pumpkins da fase Mellon Collie, dentro de um caixote de papelão num fundo estrelado. Comprei-o por 100 escudos e frustrei-me com o Blitz nessa altura por falar muito pouco do meu estilo musical de eleição, mas iniciei-me na descoberta de muitos novos mundos sonoros. Comprei imensos discos mediante a classificação dada por este semanário. Muitos barretes, muito disco de merda, mas também muita coisa boa que nunca sequer imaginei que viesse a gostar. Não comprava o Blitz pelos
Pregões e Declarações, e fiquei feliz quando essa secção se extinguiu.
Ao longo de 11 anos, comprei o Blitz religiosamente todas as semanas. E quando digo todas, quero mesmo dizer
TODAS as semanas. Admito que mais recentemente já só o comprava por vício. Não era do meu interesse ler reportagens sobre o novo disco da Pink (com direito a capa e tudo) nem edições especiais sobre as desgraças na vida do 50 Cent e os novos ténis da Reebok com o seu nome. O Blitz tornara-se Ultracomercial numa tentativa de se manter à tona de água quando o barco já à muito se havia afundado, tentando apelar ao público da Pop descartável. Acontece que esse público não compra jornais, e a alienação dos verdadeiros fãs de música saiu-lhes caro. Por vezes cheguei a comprar o Blitz e nem sequer o ler, mas sempre que me esquecia de o comprar à Terça-Feira ficava o tempo todo a pensar que se me andava a escapar algo para o meu dia ser completo ...
De há 6 anos atrás a qualidade do jornal decaiu imenso, mas este semanário deu-me momentos impagáveis que perdurarão na minha memória. Recordo com saudade as reportagens do Monsieur Sardin, nos anos 90, sobre o mítico
Arroz Doce no Bairro Alto (conhecido pelo seu delicioso Pontapé na Cona), sobre as casa de strip da capital, sobre o último filme da Pamela Anderson (a reportagem intitulava-se
A Gaja Que Me Ergue A Besta, expressão que entrou para o meu léxico desde essa altura sempre que vejo uma donzela apetecível). Arrepiei-me no momento em que o Ben Harper, na altura um ilustre desconhecido, arrasou com um espectacular
Excuse Me Mr. nos prémios Blitz. E o choque quando o Blitz me relatou a morte de Elliott Smith ainda perdura (li a notícia três vezes até perceber que tinha falecido). E a Bd do Loverboy, e a Superfuzz, e o Especial Pearl Jam na altura do No Code, e o Fuck Christmas, I Got The Blues do Legendary Tiger Man ao preço da uva mijona... Tanto me deu o Blitz, meu dEUS...
O Blitz podia já não ser um jornal para amantes de música, mas era o único semanário musical do nosso país, e acabou. Quando cheguei à banca não estava lá à minha espera como de costume. Hoje falta-me algo para o meu dia ser completo.
RIP BLitz 1984-2006